Caros participantes do Fórum de Chisinau, é um prazer e uma honra estar aqui. Agradeço ao nosso querido amigo Iurie Rosca por me convidar para esta importante conferência e espero contribuir com as discussões de alto nível que ocorrerão aqui.
Como sabemos, recentemente tem se falado muito sobre a questão da multipolaridade. Muitos especialistas, inclusive eu, acreditam que estamos em um processo de transição para uma ordem mundial policêntrica, em que haverá mais de um único centro de poder, o que proporcionará maior liberdade às nações.
Por outro lado, alguns outros especialistas acreditam que, em vez de multipolaridade, estamos apenas caminhando para um mundo mais multilateral, em que os países terão maior capacidade de criar arranjos políticos e econômicos que lhes pareçam interessantes, sem, no entanto, contestar as estruturas de poder globais.
Há bons argumentos em ambos os lados. Muitos autores que acreditam na multipolaridade apresentam uma retórica sólida e convincente, assim como alguns dos que veem o mundo em ascensão como meramente multilateral e não multipolar. Minha intenção aqui não é tentar descobrir qual desses lados está certo ou errado, nem “provar” nada. Pelo contrário, faço meu modesto discurso apenas para dizer por que acho que, independentemente do que aconteça, a multipolaridade, e não o multilateralismo, é o que devemos buscar.
Antes de mais nada, devemos pensar em quem somos “nós”. Aqui, acredito que estou falando apenas com pessoas que discordam do status quo global. Tradicionalistas, conservadores, antiglobalistas, patriotas de todas as nações e religiosos de todas as crenças. Todos nós somos inimigos do atual sistema mundial. Somos odiados pelos defensores do globalismo, que nada mais é do que o resultado final do iluminismo e da própria modernidade. Portanto, quando digo que devemos nos interessar pela multipolaridade, estou me dirigindo a esse público.
E as razões para isso são muito simples. É necessário pensar na geopolítica além de seu nível meramente profano e burocrático. A princípio, nenhum arranjo geopolítico é bom ou ruim em si mesmo. O que nos interessa vai muito além da política material e secular, da geografia e das relações internacionais. Se somos tradicionalistas, pensamos primeiro em Deus, nos valores eternos e na axiologia tradicional.
E é exatamente por isso que devemos buscar a Multipolaridade. Essa é a proposta de sistema mundial que nos parece mais favorável para atingirmos nossos principais objetivos. As décadas em que vivemos em uma realidade unipolar provaram o quanto a influência ocidental foi maléfica para o mundo inteiro. Foi possível subordinar todos os povos à tirania satânica do transumanismo e da tecnocracia brutal, sem que se formasse uma resistência sólida, dada a falta de equilíbrio de poder no cenário internacional.
Em um mundo simplesmente mais multilateral, como defendem hoje muitos institucionalistas brasileiros e europeus, também não será possível criar essa resistência. O multilateralismo é eficiente na criação de mecanismos de cooperação internacional, auxiliando no desenvolvimento das nações e favorecendo a autonomia dos Estados e blocos regionais. Mas ainda é uma plataforma global focada simplesmente na economia e no pragmatismo. Não há uma perspectiva maior no multilateralismo porque simplesmente não há uma contestação real do poder em escala global, apenas um aumento na autonomia dos Estados.
Por outro lado, a perspectiva multipolar nos parece interessante justamente porque abre a possibilidade de defender um renascimento de nossas tradições. É a multipolaridade, construída por meio da divisão do mundo em várias civilizações, cada uma reunindo povos com uma raiz histórica comum em um espaço delimitado, que pode nos dar a oportunidade de pensar além das ciências seculares da política e da geopolítica.
Devemos querer, buscar e construir um mundo multipolar, pois o que o multilateralismo pode nos proporcionar, como o desenvolvimento econômico e a cooperação de ganho mútuo, não é suficiente para nossas perspectivas. Queremos algo além disso: um retorno às nossas tradições, a perpetuação de nossas crenças e a construção de uma política baseada nos valores eternos de nosso povo. É a multipolaridade que pode nos dar pelo menos a possibilidade de ver novamente um mundo com sistemas políticos regidos pela tradição.
Como disse anteriormente, minha intenção não é provar se estamos mais próximos da Multipolaridade ou do simples multilateralismo, mas sim participar da defesa de uma das alternativas. Estou com a Multipolaridade porque sou tradicionalista, porque sou cristão ortodoxo e porque sou brasileiro. E sei que o mero multilateralismo centrado na ONU não será capaz de viabilizar o surgimento de um novo império cristão na Eurásia; tampouco será capaz de fazer com que o Brasil se torne uma Quarta Roma Tropical, como previram os anciãos de meu povo em um passado longínquo. Portanto, isso não é algo que me interessa. Para um tradicionalista, o valor de um arranjo geopolítico está em como ele pode ajudar as nações a retornar aos seus sistemas tradicionais. E eu só vejo essa possibilidade na multipolaridade.
Obviamente, não devemos esperar por soluções duradouras neste mundo onde tudo perecerá. Como cristão, minha esperança está em Nosso Deus Salvador Jesus Cristo. Da mesma forma, os adeptos de outras tradições religiosas devem ter esperança apenas em seus deuses e santos. Entretanto, no esforço legítimo e tradicional de santificar nossa vida e o mundo ao nosso redor, devemos nos esforçar para aproximar a política e a geopolítica das coisas sagradas. E de todos os sistemas geopolíticos imperfeitos que já existiram, sabemos que a multipolaridade é nossa esperança atual de retornar à tradição.
Muito obrigado!